Informações sobre hanseníase, causas, sintomas e tratamento da hanseníase, identificando práticas que possam contribuir para a sua cura.


Cura da hanseníase

A hanseníase tem cura. O tratamento é feito nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) é gratuito. A cura é mais fácil e rápida quanto mais precoce for o diagnóstico. O tratamento específico da pessoa com hanseníase, indicado pelo Ministério da Saúde, é a poliquimioterapia padronizada pela OMS, conhecida como PQT, devendo ser realizado nas unidades de saúde. A PQT mata o bacilo tornando-o inviável, evita a evolução da doença, prevenindo as incapacidades e deformidades causadas por ela, levando à cura. A poliquimioterapia é constituída pelo conjunto dos seguintes medicamentos: rifampicina, dapsona e clofazimina, com administração associada. Essa associação evita a resistência medicamentosa do bacilo que ocorre com frequência quando se utiliza apenas um medicamento, impossibilitando a cura da doença.
É administrada através de esquema-padrão, de acordo com a classificação operacional do doente em pauci ou multibacilar. A informação sobre a classificação do doente é fundamental para se selecionar o esquema de tratamento adequado ao seu caso. Para crianças com hanseníase, a dose dos medicamentos do esquema-padrão é ajustada, de acordo com a sua idade. Já no caso de pessoas com intolerância a um dos medicamentos do esquema-padrão, são indicados esquemas alternativos. A alta por cura é dada após a administração do número de doses preconizadas pelo esquema terapêutico.
A hanseníase é fácil de diagnosticar, tratar e tem cura, no entanto, quando diagnosticada e tratada tardiamente pode trazer graves conseqüências para os portadores pelas lesões que os incapacitam  fisicamente. O tratamento é longo e deve ser seguido conforme orientações médicas, pois o abandono pode resultar em reinicio do tratamento ou complicações incapacitantes.
O tratamento é um direito de todo cidadão e está disponível gratuitamente em todas as unidades de saúde do SUS.

Tratamento cirúrgico da hanseníase

Indicado em casos de neurite, para reduzir ou solucionar a compressão do tronco neural periférico, por estruturas anatômicas adjacentes, depois de esgotados todos os recursos clínicos.

Descompressão neural cirúrgica em:
  • abscesso de nervo;
  • não resposta ao tratamento clínico padronizado para neurite, em quatro semanas;
  • neurites subentrantes (resposta ao tratamento com corticosteróides, com recrudescimento tão logo se retire ou reduza a dose do medicamento);
  • neurite do nervo tibial, por ser silenciosa e não responder bem ao tratamento com corticóide.
Cirurgia de reabilitação:
  • em casos com incapacidade instalada, apresentando mão em garra, pé caído, lagoftalmo, madarose superciliar, desabamento da pirâmide nasal, queda do lóbulo da orelha ou atrofia cutânea da face;
  • os casos elegíveis deverão encaminhados para centros de referência de alta complexidade, desde que tenham completado o tratamento poliquimioterápico e estejam há pelo menos um ano sem apresentar estados inflamatórios reacionais.

Tratamento da hanseníase

O tratamento da hanseníase é ambulatorial. Administra-se uma associação de medicamentos, a poliquimioterapia (PQT/OMS), conforme a classificação operacional, sendo:
  • Paucibacilares: rifampicina, dapsona;
  • Multibacilares: rifampicina, dapsona e clofazimina.

Sinais e sintomas neurológicos da hanseniase

A hanseníase manifesta-se, além de lesões na pele, através de lesões nos nervos periféricos.
Essas lesões são decorrentes de processos inflamatórios dos nervos periféricos (neurites) e podem ser causados tanto pela ação do bacilo nos nervos como pela reação do
organismo ao bacilo ou por ambas. Elas manifestam-se através de:
  • dor e espessamento dos nervos periféricos;
  • perda de sensibilidade nas áreas inervadas por esses nervos, principalmente nos olhos, mãos e pés;
  • perda de força nos músculos inervados por esses nervos principalmente nas pálpebras e nos membros superiores e inferiores.
A neurite, geralmente, manifesta-se através de um processo agudo, acompanhado de dor intensa e edema. No início, não há evidência de comprometimento funcional do nervo, mas, freqüentemente, a neurite torna-se crônica e passa a evidenciar esse comprometimento, através da perda da capacidade de suar, causando ressecamento na pele.
Há perda de sensibilidade, causando dormência e há perda da força muscular, causando
paralisia nas áreas inervadas pelos nervos comprometidos.
Quando o acometimento neural não é tratado pode provocar incapacidades e deformidades pela alteração de sensibilidade nas áreas inervadas pelos nervos comprometidos.
As lesões neurais aparecem nas diversas formas da doença, sendo freqüentes nos Estados Reacionais.

Alguns casos, porém, apresentam alterações de sensibilidade e alterações motoras (perda de força muscular) sem sintomas agudos de neurite. Esses casos são conhecidos como neurite silenciosa.

Existem também, sinais e sintomas dermatológicos associados à hanseniase, que poderá conhecer aqui.

Sinais e sintomas dermatológicos da hanseníase

A hanseníase manifesta-se através de lesões de pele que se apresentam com diminuição ou ausência de sensibilidade.
As lesões mais comuns são:
  • Manchas pigmentares ou discrômicas: resultam da ausência, diminuição ou aumento de melanina ou depósito de outros pigmentos ou substâncias na pele.
  • Placa: é lesão que se estende em superfície por vários centímetros. Pode ser individual ou constituir aglomerado de placas.
  • Infiltração: aumento da espessura e consistência da pele, com menor evidência dos sulcos, limites imprecisos, acompanhando-se, às vezes, de eritema discreto. Pela vitropressão, surge fundo de cor café com leite. Resulta da presença na derme de infiltrado celular, às vezes com edema e vasodilatação.
  • Tubérculo: designação em desuso, significava pápula ou nódulo que evolui deixando cicatriz.
  • Nódulo: lesão sólida, circunscrita, elevada ou não, de 1 a 3 cm de tamanho. É processo patológico que localiza-se na epiderme, derme e/ou hipoderme. Pode ser lesão mais palpável que visível
Essas lesões podem estar localizadas em qualquer região do corpo e podem, também, acometer a mucosa nasal e a cavidade oral. Ocorrem, porém, com maior freqüência, na face, orelhas, nádegas, braços, pernas e costas.
A sensibilidade nas lesões pode estar diminuída (hipoestesia) ou ausente (anestesia), podendo também haver aumento da sensibilidade (hiperestesia).

Na hanseníase, as lesões de pele sempre apresentam alteração de sensibilidade. Esta é uma característica que as diferencia das lesões de pele provocadas por outras doenças dermatológicas.

Existem também, sinais e sintomas neurológicos associados à hanseniase, que poderá conhecer aqui.

Sinais e sintomas da hanseníase

A hanseníase manifesta-se através de sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos que podem levar à suspeição diagnóstica da doença. As alterações neurológicas, quando não diagnosticadas e tratadas adequadamente, podem causar incapacidades físicas que podem evoluir para deformidades.

Agente etiológico da hanseníase

A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, que é um parasita intracelular obrigatório, com afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos, que se instala no organismo da pessoa infectada, podendo se multiplicar. O tempo de multiplicação do bacilo é lento, podendo durar, em média, de 11 a 16 dias.
O M.leprae tem alta infectividade e baixa patogenicidade, isto é infecta muitas pessoas no entanto só poucas adoecem.
O homem é reconhecido como única fonte de infecção (reservatório), embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados.

Transmissão da hanseníase

A hanseníase é transmitida por meio das vias respiratórias, tosse e espirro. A principal fonte de transmissão da doença é a pessoa doente que ainda não recebeu tratamento medicamentoso.
A hanseníase não transmite por:
  • Copos, pratos, talheres, portanto não há necessidade de separar utensílios domésticos da pessoa com hanseníase;
  • Assentos, como cadeiras, bancos;
  • Apertos de mão, abraço, beijo e contatos rápidos em transporte coletivos ou serviços de saúde;
  • Picada de inseto;
  • Relação sexual;
  • Aleitamento materno;
  • Doação de sangue;
  • Herança genética ou congênita (gravidez).
Importante
Assim que a pessoa começa o tratamento deixa de transmitir a doença. A pessoa com hanseníase não precisa ser afastada do trabalho, nem do convívio familiar.

Diagnóstico diferencial da hanseníase

As principais dermatoses que se assemelham a algumas formas e reações hansênicas, exigindo diferenciação segura, são: eczemátides, nevo acrômico, pitiríase versicolor, vitiligo, pitiríase rósea de Gibert, eritema solar, eritrodermias e eritemas difusos vários, psoríase, eritema polimorfo, eritema nodoso, eritemas anulares, granuloma anular, lúpus eritematoso, farmacodermias, fotodermatites polimofas, pelagra, sífilis, alopécia areata (pelada), sarcoidose, tuberculose, xantomas, hemoblastoses, esclerodermias, neurofibromatose de Von Recklinghausen.

Diagnóstico Laboratorial da hanseníase

Exame baciloscópico
embora o diagnóstico de Hanseníase seja essencialmente clínico e epidemiológico, a baciloscopia de pele (esfregaço intradérmico), quando disponível, pode ser utilizada para a classificação dos casos como pauci ou multibacilares. Quando negativa, não exclui o diagnóstico de hanseníase, mas, quando positiva, permite classificar o caso como multibacilar, independente do número de lesões presentes.

Exame histopatológico
indicado como suporte para a elucidação diagnóstica e também em pesquisas. Os bacilos de Hansen são vistos isoladamente ou em aglomerados chamados globias no citoplasma dos macrófagos (células de Virchow). A formação de globias é exclusiva da hanseníase virchowiana.

Diagnóstico clínico da hanseníase

O diagnóstico de hanseníase é essencialmente clínico e epidemiológico, baseado na história, nas condições de vida do indivíduo e no exame dermatoneurológico. Este último objetiva identificar lesões ou áreas de pele com diminuição ou perda da sensibilidade, comprometimento de nervos periféricos, com ou sem espessamento, além de alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas.
Casos com suspeita de comprometimento neural puro, sem lesão cutânea, e os que apresentam área com alteração sensitiva e/ou autonômica duvidosa e sem lesão cutânea evidente requerem avaliação em unidades de saúde de maior complexidade para a confirmação diagnóstica.

Diagnóstico da hanseníase

O diagnóstico é feito através do exame clínico, realização da anamnese, avaliação dermatológica e neurológica (presença de alteração de sensibilidade e motora e espessamento neural); e laboratorial, através da baciloscopia, onde se observa o Mycobacterium leprae diretamente nos esfregaços de raspados intradérmicos das lesões hansênicas ou de outros locais, como os lóbulos auriculares e/ou cotovelos.
De acordo com a resposta imunológica específica ao bacilo, a infecção evolui de diversas maneiras. Essa resposta imune constitui um espectro que expressa as diferentes formas clínicas.

Hanseníase tuberculóide nodular da infância

Na infância, ocorrem as mesmas formas clinicas que no adulto, mas há uma forma que é característica das crianças na faixa etária de 2 a 4 anos que é a hanseníase tuberculóide nodular da infância .
As lesões são pápulas, pequenos tubérculos ou nódulos, únicos ou em pequeno número, de tonalidade marromavermelhada e sem lesão aparente de nervo periférico. Não se encontram bacilos nos esfregaços de rotina e a histopatologia mostra um quadro histológico tuberculóide.
A reação de Mitsuda é positiva e os casos têm tendência à cura espontânea.

Hanseníase dimorfa

Clinicamente oscila entre as manifestações da forma tuberculoide e as da forma virchowiana. Pode apresentar lesões de pele, bem delimitadas, com pouco ou nenhum bacilo, e lesões infiltrativas mal delimitadas, com muitos bacilos. Uma mesma lesão pode apresentar borda interna nítida e externa difusa. O comprometimento de nervos e os episódios reacionais são frequentes, podendo esse paciente desenvolver incapacidades e deformidades físicas. A baciloscopia de raspado intradérmico pode ser positiva ou negativa.
Conheça os outros tipos de hanseníase aqui.

Hanseníase virchowiana

A Hanseníase virchowiana caracteriza-se clinicamente pela disseminação de lesões de pele que podem ser eritematosas, infiltrativas, de limites imprecisos, brilhantes e de distribuição simétrica. Nos locais em que a infiltração for mais acentuada podem se formar pápulas, tubérculos, nódulos e placas chamadas genericamente de hansenomas. Pode haver infiltração difusa da face e de pavilhões auriculares com perda de cílios e supercílios. Devem ser valorizados sintomas gerais incluindo obstrução nasal e rinite, mesmo na ausência de lesões significativas de pele e de nervos. Esta forma constitui uma doença sistêmica com manifestações mucosas e viscerais importantes, especialmente nos episódios reacionais, onde olhos, testículos e rins, entre outras estruturas, podem ser afetados. Existem alterações de sensibilidade das lesões de pele e acometimento dos nervos , porém, não tão precoces e marcantes como na forma tuberculoide. A baciloscopia de raspado intradérmico é positiva com grande número de bacilos.
Conheça os outros tipos de hanseníase aqui.

Hanseníase tuberculóide

A Hanseníase tuberculóide caracteriza-se clinicamente por lesões em placa na pele, com bordas bem delimitadas, eritematosas, ou por manchas hipocrômicas nítidas, bem definidas. Apresenta queda de pelos e alteração das sensibilidades térmica, dolorosa e tátil. As lesões de pele apresentamse em número reduzido, podendo, também, ocorrer cura espontânea. O comprometimento de nervos ocorre, geralmente, de forma assimétrica, sendo, algumas vezes, a única manifestação clínica da doença. A baciloscopia de raspado intradérmico é negativa.
Conheça os outros tipos de hanseníase aqui.

Hanseníase indeterminada

A hanseníase indeterminada caracteriza-se clinicamente por manchas esbranquiçadas na pele (manchas hipocrônicas), únicas ou múltiplas, de limites imprecisos e com alteração de sensibilidade. Pode ocorrer alteração apenas da sensibilidade térmica com preservação das sensibilidades dolorosa e tátil. Não há comprometimento de nervos e, por isso, não ocorrem alterações motoras ou sensitivas que possam causar incapacidades. A baciloscopia de raspado intradérmico é sempre negativa, quando positiva indica evolução da doença.
Conheça os outros tipos de hanseníase aqui.

Classificação da hanseníase

As pessoas, em geral, têm imunidade para o M. leprae, e a maioria delas não adoece. Entre as que adoecem, o grau de imunidade varia determinando a forma clínica e a evolução da doença.
As formas de manifestação clínica da hanseníase são quatro: indeterminadatuberculoide, virchowiana e dimorfa (classificação de Madri). A partir da forma indeterminada, a hanseníase pode evoluir para as demais formas clínicas.

Preconceitos relativos a portadores de hanseníase

Ao longo da história, o desconhecimento geral - do público, das autoridades, dos profissionais de saúde e dos próprios pacientes - tem levado ao estabelecimento de preconceitos e estigmas sociais em relação a inúmeras doenças. É um processo que dificulta a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e a vigilância epidemiológica, criando sérios problemas de saúde pública e levando a agravos físicos, psíquicos e sociais que poderiam ser evitados, muitas vezes com relativa facilidade.
A hanseníase, conhecida durante séculos como “lepra”, carregou sempre consigo um estigma extremamente forte de sujeira, podridão, pecado e castigo. O conceito de lepra trazia em seu bojo profunda confusão, em que se misturavam à hanseníase quadros de psoríase, vitiligo, dermatite de contato, elefantíase e outras patologias que apresentam deformações, incapacidades e lesões de pele ou de nervos, todas vistas historicamente como uma única doença, sem tratamento conhecido. Tal confusão persiste parcialmente até os dias atuais.
Sendo a hanseníase, dentre as doenças infecto-contagiosas, aquela que apresenta o mais baixo risco de contágio e tendo, hoje, um tratamento efi caz que, quando realizado precocemente, pode evitar as deformações anatômicas que sempre a caracterizaram, já não se justifica a lógica de isolamento social imposta historicamente aos seus portadores.
Hoje, o Ministério da Saúde, no Brasil, tem um Programa Nacional de Controle e Eliminação da Hanseníase. Os casos diagnosticados nos Postos de Saúde e nos hospitais são encaminhados aos Centros de Referência deste programa, onde o diagnóstico é confirmado e o tratamento é iniciado.
É um programa muito bem organizado e bem pensado, que tem logrado diminuir os índices de prevalência e incidência da doença em muitas regiões do país. Entretanto, alguns problemas que interferem em sua eficácia e, especialmente, na continuidade dos tratamentos individuais, têm se apresentado.
Em primeiro lugar, o desconhecimento e o preconceito, que persistem. Ainda que hoje muito mais se saiba a respeito da hanseníase, encontramos grande número de pessoas que, por exemplo, acreditam que esta esteja totalmente erradicada do país e/ou do mundo. Ou que as deformações que dela podem decorrer sejam inevitáveis, e que seu contágio seja rápido e fácil.
Está claramente identificada a necessidade social de desconstrução do preconceito que ainda cerca a hanseníase, e deve ser reconhecida a imensa dívida das autoridades e da sociedade com esse grupo durante tanto tempo, e ainda hoje, discriminado e isolado do convívio social, alienado de seus bens, seus entes queridos e seu direito ao exercício profissional. Estes aspectos justificam socialmente a pertinência do presente projeto.